Este mês consegue superar o seu antecessor. É o tempo do Carnaval, das indigestões ou, para falar de modo mais educado, das más digestões. Que as consciências timoratas sosseguem então: o pecado da gula, ainda que se conte entre os pecados capitais, culpabiliza-os menos. De todos os tipos de intemperanças, é aquela a que a Igreja concede mais facilmente a absolvição: ela conhece melhor do que ninguém a força da sua sedução.
A carne de talho e a charcutaria são tão procuradas como no mês de Janeiro; a caça, embora mais rara, ainda vai aparecendo. Os vagões vergam sob o peso dos perus recheados de trufas, dos patés, dos foie-gras, das caixas isolantes para a carne que, do Norte, do Sul, acorrem até à capital para chegarem antes da Quaresma. Nérac, Estrasburgo, Troyes, Lião, Cahors, Périgueux rivalizam em zelo e actividade para nos cumular de delícias. Do Périgord até Paris, as trufas perfumam o comboio inteiro com o seu suculento aroma. Sendo o Carnaval a época de etiqueta dos almoços, estes tesouros enriquecem-nos à compita; ainda transbordam em profusão nos sumptuosos jantares de que os banquetes anteriores à Quaresma constituem o fútil pretexto; daí um encadear de indigestões que não deixam tempo para respirar. Ao aproximar-se o Carnaval, a glória das aves está no seu apogeu, é nessa altura que atinge o seu mais belo triunfo. Desde o operário mais pobre ao que vive muito eticamente dos rendimentos, até ao opulento financeiro, todos lhes querem chegar. Esta concorrência faz com que as aves atinjam preços de que elas próprias se espantam.
A carne de talho e a charcutaria são tão procuradas como no mês de Janeiro; a caça, embora mais rara, ainda vai aparecendo. Os vagões vergam sob o peso dos perus recheados de trufas, dos patés, dos foie-gras, das caixas isolantes para a carne que, do Norte, do Sul, acorrem até à capital para chegarem antes da Quaresma. Nérac, Estrasburgo, Troyes, Lião, Cahors, Périgueux rivalizam em zelo e actividade para nos cumular de delícias. Do Périgord até Paris, as trufas perfumam o comboio inteiro com o seu suculento aroma. Sendo o Carnaval a época de etiqueta dos almoços, estes tesouros enriquecem-nos à compita; ainda transbordam em profusão nos sumptuosos jantares de que os banquetes anteriores à Quaresma constituem o fútil pretexto; daí um encadear de indigestões que não deixam tempo para respirar. Ao aproximar-se o Carnaval, a glória das aves está no seu apogeu, é nessa altura que atinge o seu mais belo triunfo. Desde o operário mais pobre ao que vive muito eticamente dos rendimentos, até ao opulento financeiro, todos lhes querem chegar. Esta concorrência faz com que as aves atinjam preços de que elas próprias se espantam.
Grimod de La Reynière in "Calendário gastronómico"
texto-oferta da Lebre
:) inicia, assim, a rubrica literatura do garfo e gourmands
2 comentários:
:D
lindo:)
:)*
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